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Depois da morte do cão comecei a passar cada vez mais tempo fechado no meu quarto, entretido com os livros. O mundo que me era dado conhecer através deles parecia-me muito mais real do que aquele que me rodeava. Perante os meus olhos desfilavam paisagens que jamais imaginara ver. Os livros e a música passaram a ser os meus melhores amigos. Na escola tinha dois ou três bons amigos, mas nunca encontrara alguém a quem pudesse abrir o coração. Conversar e jogar futebol era tudo o que fazíamos quando estávamos juntos. Se surgia algum problema, não tinha com quem desabafar. Ficava no meu canto, entregue aos meus pensamentos, tirava as minhas conclusões e ia à luta sozinho, mas não posso dizer que me sentisse só. Pensava que isso era normal. Enfim, pensava que os seres humanos deviam trilhar o seu caminho sozinhos.
No entanto, quando cheguei à universidade, encontrei esta amiga, aquela de quem já te falei, e comecei a ver as coisas de outra maneira. Percebi que, à força de pensar nas coisas por minha conta durante tanto tempo, acabara por ficar limitado à minha perspectiva, e comecei a dar-me conta de que estar sempre sozinho pode tornar-se uma coisa terrivelmente depressiva.
in, Sputnik, meu amor, Haruki Murakami
É importante fazer amigos.
Alice Alfazema