- Estás a ver o raio de luz? - perguntou-me.
- Sim, claro que estou.
- Porquê?
- Porque tens a lanterna acesa - respondi obviamente, sem perceber onde ele queria chegar.
- Agora, abre a persiana.
Assim fiz.
- E agora? - perguntou, apontando a lanterna para a janela, por onde entrava, em pleno, a luz do sol do meio-dia.
- E agora o quê? - repeti.
- Agora, a lanterna está acesa ou não?
- Não sei.
- Como? Não vês a luz?
- Não, agora não.
- Sabes porquê?
- Por causa do sol... - comecei a tentar explicar.
- Não consegues vê-la porque, para te aperceberes da luz, precisas da escuridão. Estás a ver? As coisas só são quando existe o seu oposto. E isso acontece com a luz e a escuridão, com o dia e a noite, o masculino e o feminino, a força e a fraqueza...
Todas as nossas qualidades, condições, virtudes e defeitos, estão dentro de nós, ligados aos seus respectivos opostos. A nossa bondade, inteligência e coragem coexistem sempre com a nossa maldade, estupidez e cobardia.
Jorge Bucay, Deixa-me Que Te conte