D. Amélia
Entrei no quarto, ela estava sentada, como de costume. O tabuleiro com a comida encontra-se cheio, não comeu nada. Os dias passam e a cena repete-se.
Ela dormita, finge que dorme - não sei. Não tem chinelos de quarto, não tem camisa de dormir, não tem robe. Tudo o que tem vestido é roupa de hospital. As suas bochechas são redondinhas, mas o seu corpo está cada vez mais magro. Sorri.
Os seus oitenta e seis anos dissolveram-se no tempo. A sua espera é vazia.
Que momentos terá vivido? Que histórias tem para contar? Onde estão os seus amigos? Os seus familiares? Está só, e diz que a comida não tem gosto. Sorri.
Alice Alfazema