Nos olhos enigmáticos dos bois!
Na doce paz da tarde que declina
Após a faina sob um sol ardente,
Vão os bois recolhendo lentamente
Pelas vias desertas da campina
Atravessam depois a cristalina
Ribeira e o flébil som da água corrente
Bebem sedentos, demoradamente,
Numa sensual rudeza que os domina.
Mas quando, fartos de água, erguendo as frontes,
Os beiços escorrendo, olham os montes
E ouvem cantar ao alto os rouxinóis,
Eu fico-me a cismar, calado e triste,
Que um mundo de impressões, que uma alma existe
Nos olhos enigmáticos dos bois!
Conde de Monsaraz
(1852-1913)
Alice Alfazema