Diversificação social
Ó Júpiter, tu que soubeste do teu cérebro,
Por uma nova técnica de parto,
Afastar Palas, outrora meu inimigo,
ouve o meu lamento, sê meu amigo.
Procne, ziguezagueando, cortando as águas e o ar,
A comida me vem roubar.
Na minha porta, as moscas apanha.
Minhas, posso dizê-lo; e a minha teia,
Que eu teci bem resistente, estaria cheia
Sem pássaro impertinente.
Com este discurso irritado,
Lamentava-se a aranha, antiga tapeceira,
E, agora que era fiandeira,
Pretendia caçar todo o insecto descuidado.
A irmã de Filomena, à presa toma atenção
E às moscas no ar deita a mão.
Cruel alegria para ela e para os filhotes,
Ninhada de glutões de bico sempre aberto,
Que reclamavam com gritos bem fortes.
A pobre aranha apenas formada
Por cabeça e patas articuladas
Também foi apanhada.
A andorinha levou a teia ao passar
E com ela o animal na ponta a bailar.
Para as diversas posições sociais
Há duas mesas: o esperto, o vigilante e o forte
Sentam-se na primeira;
Os fracos comem os restos na segunda.
Jean de La Fontaine
Alice Alfazema