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Alice Alfazema

Recortes do quotidiano: do meu, do teu, do seu, e dos outros.

Alice Alfazema

Recortes do quotidiano: do meu, do teu, do seu, e dos outros.

"Tua é a Terra com tudo o que existe no mundo"

14
Dez20

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Ilustração Robert Duncan

 

Se és capaz de manter tua calma, quando,

todo mundo ao redor já a perdeu e te culpa.

De crer em ti quando estão todos duvidando,

e para esses no entanto achar uma desculpa.



Se és capaz de esperar sem te desesperares,

ou, enganado, não mentir ao mentiroso,

Ou, sendo odiado, sempre ao ódio te esquivares,

e não parecer bom demais, nem pretensioso.



Se és capaz de pensar - sem que a isso só te atires,

de sonhar - sem fazer dos sonhos teus senhores.

Se, encontrando a Desgraça e o Triunfo, conseguires,

tratar da mesma forma a esses dois impostores.



Se és capaz de sofrer a dor de ver mudadas,

em armadilhas as verdades que disseste

E as coisas, por que deste a vida estraçalhadas,

e refazê-las com o bem pouco que te reste.



Se és capaz de arriscar numa única parada,

tudo quanto ganhaste em toda a tua vida.

E perder e, ao perder, sem nunca dizer nada,

resignado, tornar ao ponto de partida.



De forçar coração, nervos, músculos, tudo,

a dar seja o que for que neles ainda existe.

E a persistir assim quando, exausto, contudo,

resta a vontade em ti, que ainda te ordena: Persiste!



Se és capaz de, entre a plebe, não te corromperes,

e, entre Reis, não perder a naturalidade.

E de amigos, quer bons, quer maus, te defenderes,

se a todos podes ser de alguma utilidade.



Se és capaz de dar, segundo por segundo,

ao minuto fatal todo valor e brilho.

Tua é a Terra com tudo o que existe no mundo,

e - o que ainda é muito mais - és um Homem, meu filho!
  

    



Poema de Rudyard Kipling, tradução Guilherme de Almeida.

 

 

 

Orvalho

13
Abr20

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Deixa que o orvalho
lave a poeira dos caminhos.

 

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Deixa que a pedra rosada se incendeie com o Sol
e que as chamas iluminem o destino
tão incerto e frágil, quanto a carne
que um dia, será apenas pó.

 

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Deixa que o amor, num simples abraço se eternize
antes que o corpo nada mais precise.

 

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Deixa que o sonho não seja fantasia
que ressuscite em cada dia
e fique gravado em cada um de nós !

Deixa!

 

 

 

Poema Lita Lisboa, in Nuances Poéticas 

Simplicidade

21
Fev20

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Ilustração Jungho Lee

 

 

alguém devia separar a inquietação do tempo
ouvir os cânticos não humanos da terra
serenata de peito aberto

aceito o abrandamento da respiração
e o vento protector engrandece a ideia de raiz

a simplicidade chama-se pedra-folhagem-animal e voa
a verdade tem nome de pássaro azul com alma

tu e eu em prece murmurada de escuta
tu e eu e as primeiras águas
tu e eu em construção
ainda que não haja tempo
para edificar a árvore do mundo

 

 

Poema Adília César

Fotógrafos de Natureza - Daniel Řeřicha

28
Ago19

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Como um vento na floresta,

Minha emoção não tem fim.

Nada sou, nada me resta.

Não sei quem sou para mim.

 

 

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E como entre os arvoredos

Há grandes sons de folhagem,

Também agito segredos

No fundo da minha imagem.

 

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E o grande ruído do vento

Que as folhas cobrem de som

Despe-me do pensamento:

Sou ninguém, temo ser bom.

 

 

Fotografias Daniel Řeřicha 

 

 

Poema de Fernando Pessoa