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Alice Alfazema

Recortes do quotidiano: do meu, do teu, do seu, e dos outros.

Alice Alfazema

Recortes do quotidiano: do meu, do teu, do seu, e dos outros.

Sobre os sem abrigo

20
Fev14

Fotografia do blogue Existe um olhar

 

Esta fotografia traduz uma realidade cada vez mais crescente em Portugal, os sem abrigo. A maioria pensa que estas pessoas são culpadas e que o seu modo de vida deve-se a escolhas erradas, talvez a apenas algumas escolhas, mas a sociedade, que somos todos nós, também tem as suas culpas e não são poucas. Agora com a crise torna-se mais fácil compreender a pobreza e sentir as suas dores, agora é mais fácil falar, no entanto parece haver uma compreensão, digamos um carinho maior por aquelas pessoas que tinham uma vida boa e agora deixaram de o ter. Como se isso fosse uma dor maior do que aquela que é viver permanentemente na pobreza. E choram pelas viagens que já não podem fazer, pelas malas que não podem comprar, mas estes choram de alegria quando têm um prato de comida quente, porque as outras lágrimas, essas nunca as choraram, no entanto esta gente é altruísta. Não sei a antecedência desta imagem, mas penso que provavelmente ele estaria a partilhar as suas bolachas com os pombos, já vi disto diversas vezes. Entretanto os outros que choram pelas coisas banais da vida, muitas vezes nem partilhar um sorriso sabem, é isso que me impressiona mais, nesta rude crise de valores que vivemos actualmente, é essa a maior e mais aglutinadora crise que devemos ultrapassar, pois sem isso parece-me que não vamos muito longe. O homem e a mulher são feitos de afectos, os números vêm depois, esses são indicadores sociais de ideias de civilização e bem estar, mas será que são mesmo?

 

Alice Alfazema

 

Uma pergunta por dia: As lágrimas da pobreza são salgadas?

29
Set13

 

Imagem do Público

 

Neste ambiente de blogues a pobreza não existe, assim como não existe a fome, o mau cheiro, a desarrumação, o cheiro da gansas, as pulgas, os gritos, o desespero. Esse é um ambiente dos outros, que tem apenas a culpa dos próprios. As caras marcadas pelas rugas profundas não existem aqui, tal como não contam para o Estado. A reinserção social é uma fraude de plasticina, que pode ser moldada a gosto, sem regras, sem caminhos que levem ao aconchego.

 

Aqui as notícias de domingo têm menos importância mas a pobreza existe todos os dias. As lágrimas da pobreza são um mar de culpas, uma tristeza profunda de quem não conseguiu, da impotência diária, da dor, de um caminhar arrastado que procura soluções no álcool, na droga, na violência...pensar que a culpa é deles é um argumento baixo em inteligência, corroído pela inexperiência e ignorância profunda da sociedade. Um país que investe em pobreza é um país fraco em termos de valores e igualdades de oportunidades e a culpa é de todos. 

 

Bom domingo...(e votem em consciência).

 

 

Uma pergunta por dia até ao final do ano, quem quiser responder esteja à vontade.

 

Alice Alfazema