Para além dos livros azuis para menino e dos livros rosa para menina
Ilustração Prudence Flint
Quando um homem me diz
Que eu sou bonita
Eu não acredito.
Ao invés disso, eu revivo os meus dias no colégio
Onde não importava o quão boa eu fosse
Eu sempre era a menina de bigode
Ele não sabe o que é
Crescer com a sua família materna
Quando o seu corpo é o único
Que com orgulho mostra o [cromossomo] X do seu pai
Enquanto o X da sua mãe fica de lado e sente pena
Da sua falta de atitude feminina
Ele não conhece a adolescente
Que encheu os seus cantos com
Consolos vazios de
Ser amada por quem ela era – algum dia.
Ele não conhece a hipocrisia.
Ele não sabe do mundo que
Diz para você ser ‘você mesma’
E te vende justo e adorável cartão de vergonha
Ao mesmo tempo
Ele não sabe da cera quente e do laser
Cujo único propósito é
Substituir a nossa pele inocente
Com a sua própria marca de feminilidade
Ele não sabe do descolorante
Que desenraiza o seu robusto cabelo
Em nome da higiene
Higiene que, quando seguida pelos homens,
Faz deles gays e nada masculinos.
Ele não sabe como domar as sobrancelhas espessas
E como as monocelhas morrem silenciosamente
Tudo para preservar a beleza
E dos torturantes milagres que acontecem
Dentro das portas marcadas com
SÓ MULHERES
Então quando um homem diz que eu sou bonita
Eu lhe dou um sorriso. Um sorriso que fica
Depois de tudo que as faixas arrancaram
E eu o desafio
A esperar
Até os meus pelos crescerem de novo.
Poema de Naina Katarina
Alice Alfazema