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Alice Alfazema

Recortes do quotidiano: do meu, do teu, do seu, e dos outros.

Alice Alfazema

Recortes do quotidiano: do meu, do teu, do seu, e dos outros.

Para além dos livros azuis para menino e dos livros rosa para menina

26
Ago17

 

Ilustração  Prudence Flint

 

Quando um homem me diz
Que eu sou bonita
Eu não acredito.
Ao invés disso, eu revivo os meus dias no colégio
Onde não importava o quão boa eu fosse
Eu sempre era a menina de bigode

 

Ele não sabe o que é
Crescer com a sua família materna
Quando o seu corpo é o único
Que com orgulho mostra o [cromossomo] X do seu pai
Enquanto o X da sua mãe fica de lado e sente pena
Da sua falta de atitude feminina

 

Ele não conhece a adolescente
Que encheu os seus cantos com
Consolos vazios de
Ser amada por quem ela era – algum dia.
Ele não conhece a hipocrisia.

 

Ele não sabe do mundo que
Diz para você ser ‘você mesma’
E te vende justo e adorável cartão de vergonha
Ao mesmo tempo

 

Ele não sabe da cera quente e do laser
Cujo único propósito é
Substituir a nossa pele inocente
Com a sua própria marca de feminilidade

 

Ele não sabe do descolorante
Que desenraiza o seu robusto cabelo
Em nome da higiene
Higiene que, quando seguida pelos homens,
Faz deles gays e nada masculinos.

 

Ele não sabe como domar as sobrancelhas espessas
E como as monocelhas morrem silenciosamente
Tudo para preservar a beleza
E dos torturantes milagres que acontecem
Dentro das portas marcadas com
SÓ MULHERES

 

Então quando um homem diz que eu sou bonita
Eu lhe dou um sorriso. Um sorriso que fica
Depois de tudo que as faixas arrancaram
E eu o desafio
A esperar
Até os meus pelos crescerem de novo.

 

 

 

Poema de Naina Katarina

 

 

Alice Alfazema 

 

 

Março mês da Mulher: Mulheres pequeninas

09
Mar14

Nujood tinha dez anos quando se casou com um homem de trinta, serviu como mercadoria, foi comprada por uma ninharia. Esta história já tem alguns anos, existe um livro que narra como tudo aconteceu, o texto abaixo traduz um pouco da vida desta menina nessa altura.
Uma mulher esperava por nós na soleira de uma das casas de pedra de Khardji. De imediato, senti que não gostava de mim. A minha nova sogra era velha, com a pele tão enrugada como a de um lagarto. Com um gesto, disse-me que entrasse. O interior da casa quase não tinha mobílias: quatro quartos, uma sala de estar, uma pequena cozinha. Quase caí em cima do arroz e da carne que as suas irmãs tinham preparado. Após a refeição, alguns idosos da aldeia juntaram-se para mascar qat. Ninguém pareceu surpreendido pela minha pouca idade. Mais tarde, aprendi que casamentos com crianças não são raros no interior do país. Existe, inclusivamente, um provérbio tribal que diz: «Se queres um casamento feliz, casa com uma rapariga de nove anos.». Fiquei tremendamente aliviada quando me levaram ao meu quarto. No chão, um longo tapete tecido: a minha cama. Nem precisei de apagar a luz para adormecer. Tomara nunca ter acordado. Quando a porta se abriu, acordei surpreendida. Mal tinha aberto os olhos e senti um corpo húmido e peludo a pressionar o meu. Alguém tinha apagado a vela e no quarto estava escuro como breu. Era ele! Reconheci-o pelo horrível cheiro a cigarros e a qat. Começou a esfregar-se em mim. 
 

 Poderão ler mais em Selecções Reader´s Digest

 Poderão também ver a situação actual em The Guardian

 

Em Abril de 2009, o Parlamento Iemenita aprovou uma lei que aumenta a idade de consentimento para os 17 anos, mas a lei foi revogada no dia a seguir por pressão dos partidos conservadores. A alteração da idade legal de consentimento está ainda em discussão?

 

Pelo mundo fora existem um sem número de meninas que são tornadas à força mulheres, que são maltratadas e humilhadas todos os dias como se de outra raça se tratasse, mesmo que assim fosse é muita crueldade em nome da religião? Mas que raio de amor é este? Somos nós mulheres alguma espécie inferior? Século XXI? 

 

Alice Alfazema

 

 

Março mês da Mulher: Mulheres ciganas

07
Mar14

 Fotografia do blogue Rostos Transmontanos

 

 

A Presidente da Associação para o Desenvolvimento das Mulheres Ciganas em Portugal (AMUCIP), Olga Mariano, afirma que há tradições “muito bonitas”, mas não duvida que há outras que os ciganos podem “deixar pelo caminho”, como impedirem as meninas ciganas de estudarem, lembrando que a maior parte das mulheres se fica pelo quarto ano de escolaridade.

 

Texto retirado daqui.

 

Alice Alfazema