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Ilustração Virginia Mori
Eu gostava de ter uma cama de mar azul brilhante. Que fosse sempre feita e desfeita numa cadência ritmada de um maestoso. Onde eu pudesse descansar nas ondas e sentir o aveludado da água na minha pele. Nem sonhos de sereias, nem de medusas monstruosas e venenosas. Apenas sonhos de peixinhos e conchas com algas leves e coloridas. E ouvir a voz do mar, com o som que há dentro dos búzios.
Ilustração Alice Caldarella
Apesar do descanso dos dias sinto-me cansada, exausta de pensar, pensar que não quero a vida que tinha, não quero aquela azáfama desvairada e já sem retorno. Finalmente dei-me conta do quanto estava cansada, e da minha insistência em não descansar. Um outro eu espreita e toma conta do meu cérebro, um eu mais egoísta, mais exigente, menos compreensivo com as desculpas. Esta mudança de pele é complexa, ouvi dizer que as cobras ficam mais agressivas quando mudam de pele, talvez fiquem assim para protegerem a sua nova camada ainda jovem e sensível.
Como li aqui: "Sair é uma interrupção. Um parágrafo que nos dá fôlego para o parágrafo seguinte." Que frase tão boa de se ler. Sair de mim também pode ser uma interrupção, que seja para a minha vida seguinte.
Ilustração Rafal Olbinski
Cheguei a casa e descansei, não pus os pés na Lua, mas retirei-os do chão. Continuo a surpreender-me com a subtileza do mal, com os sorrisos descarnados de empatia. Sentei-me e desejei por os pés na Lua, mas a minha perna era demasiado curta.