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Alice Alfazema

Recortes do quotidiano: do meu, do teu, do seu, e dos outros.

Alice Alfazema

Recortes do quotidiano: do meu, do teu, do seu, e dos outros.

Bellissimo!

24
Nov20

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Hoje na hora do almoço fui beber um café, pedi um bolo miniatura para dar pompa à circunstância. Quando recebi o pedido fiquei tão contente com o efeito que pensei automaticamente, tenho de tirar uma fotografia para lhes mostrar. E quem são os lhes? São vocês que passam por aqui todos os dias, que me deixam comentários, que me acompanharam durante este mês de Novembro, que foi para mim um mês duro e de clausura forçada.  Mês em que fiz parte dos números da listagem diária da DGS. Durante duas semanas tomei de assalto a sala, fiz do sofá a minha cama e o meu local preferido de passagem das horas. Tricotei uma camisola para espairecer os pensamentos. Os dias foram muito compridos, acompanhados de um sentimento de inutilidade permanente, agora parecem-me longínquos esses dias, como se o tempo tivesse tomado outra proporção. Eu que tanto prezo a minha Liberdade, vi-me privada desse bem tão precioso, diremos que é por um bem maior e que não tive grandes sintomas que me privassem de saúde física, estou grata por isso, mas esta doença para além das maleitas físicas faz-nos sentir o quanto somos insignificantes ou indispensáveis para aqueles que nos rodeiam. Todos os dias tive mensagens de ânimo, todos os dias tive pequeno- almoço na cama, almoços caprichados, jantares variados, café adoçado, bolinho, no entanto não pude compartilhar  essa magia da troca de afectos. Eu que gosto de estar sozinha, de ter tempo para pensar e de fazer o que me apetece, e que há meses estou constantemente acompanhada, senti aquilo que julgo ser o verdadeiro sentimento de solidão, não porque não tivesse ninguém, mas porque me sentia abandonada por mim, com um sentimento de nulidade agarrada à pele. 

Vai um cafezinho? Pago eu. 

 

Fiquem bem. 

Incógnita

18
Nov20

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Ilustração Marcin Piwowarski

 

Ela bebia um chá, mas era um chá totalmente diferente de todos os que existiam por aí à venda. Não se encontrava em lado nenhum e era impossível conseguir a receita, nem havia fábrica ou farmacêutica que fosse capaz de o produzir. Não havia nenhuma montanha, vale, prado ou bosque, em que nascesse tal planta, nem sequer haveria planta. Mas que chá era aquele? Que mesmo sem água ou planta lhe aconchega o ânimo? 

 

O meu cão

Ginjas

11
Jun20

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O meu cão não é obediente, mas eu também não quero que ele seja obediente, gosto dos seus ataques de fúria quando está chateado, da forma como anda sem dar cavaco a ninguém, do modo meigo quando está interessado na comida que temos à mesa. Quando não gosta de uma pessoa não há nada a fazer, mas quando gosta ama até ao infinito. Sabe quando estamos tristes e vem-nos confortar, sabe quando vamos sair para trabalhar, quando estamos doentes, quando é hora de ir dormir e de não ladrar. É sempre uma alegria para ele quando voltamos a casa, mesmo que tenha passado apenas trinta minutos. O seu amor é genuíno e despreocupado. Não gosto do termo animal de companhia, nem de animal de estimação, mas gosto de dizer o meu cão, tal como digo o meu amigo, ou a minha prima, é como família, sem sermos do mesmo sangue ou da mesma raça, temos amor um pelo outro, nunca poderia ser de companhia ou de estimação, isso diz-se quando se paga a alguém ou quando falamos de um objecto. E às vezes fico a olhar para ele e de forma deliberada guardo essas memórias, e vejo que envelhece a uma velocidade diferente da minha, talvez por isso ele saiba que não merece a pena andarmos zangados, nem acumularmos rancores, as zangas devem de ser rapidamente resolvidas, pois o tempo urge e há que fazer dele aquilo que nos dá mais alegria.