A tua corrida começa quando choras pela primeira vez...
As pessoas surpreendem-se a cada dia que passa, ficam admiradas com a rotina que se instala, perplexas com as rugas que acumulam no rosto. Pensam que são diferentes, mas revêem-se nos padrões que se instalam nas conversas do dia-a-dia.
Os mais velhos dizem que antigamente é que era bom, os novos descobrem as brejeirices como uma nova forma de estar. Nalguns meios a escrita criativa é a promessa de sermos diferentes. Noutros a imagem corporal e os trapos que tens vestidos. O tom de voz assume carisma. A passividade é um mal dos excluídos. Temos culpa de sermos donos de vidas miseráveis. O preconceito é um presente embrulhado com um bonito laço vermelho e coberto de palavras elegantes e ditas de forma harmoniosa. Há orações para isso.
Olham-se ao espelho e tiram fotografias de forma a ficarem únicos. Único é apenas o dia de hoje. Colocas no teu prato uma folha de alface recortada e isso torna a receita especial, apesar de a salada de alface ter sido uma inovação que já contêm fungos devido há humidade dos anos que passaram por ela. A tua salada é especial. Tu és especial. És bom. És capaz. És tudo aquilo que quiseres. Depende de ti, força. Tu és tudo aquilo que encontrares pela frente e és o conjunto das pessoas a quem te juntares.
Somos padrões formados pelas experiências daquilo que vivemos. Ocultos. Sem cor. A mandar recados. Sem querer saber. A pensar nos outros. Revoltados. Libertos. Alegres. Sisudos. Velhos. Semi-velhos. Plastificados. Amigos de gente fina. Escumalha. Ladrões. Altruístas. Somos uma longa metragem. Uma novela mexicana.
A tua corrida começa quando choras pela primeira vez.
Ilustrações Ricardo Solís
Alice Alfazema