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Alice Alfazema

Recortes do quotidiano: do meu, do teu, do seu, e dos outros.

Alice Alfazema

Recortes do quotidiano: do meu, do teu, do seu, e dos outros.

Às mães

27
Jan14

 

mãe, tenho pena. esperei sempre que entendesses 

as palavras que nunca disse e os gestos que nunca fiz. 
sei hoje que apenas esperei, mãe, e esperar não é suficiente. 

pelas palavras que nunca disse, pelos gestos que me pediste 
tanto e eu nunca fui capaz de fazer, quero pedir-te 
desculpa, mãe, e sei que pedir desculpa não é suficiente. 

às vezes, quero dizer-te tantas coisas que não consigo, 
a fotografia em que estou ao teu colo é a fotografia 
mais bonita que tenho, gosto de quando estás feliz. 

lê isto: mãe, amo-te. 

eu sei e tu sabes que poderei sempre fingir que não 
escrevi estas palavras, sim, mãe, hei-de fingir que 
não escrevi estas palavras, e tu hás-de fingir que não 
as leste, somos assim, mãe, mas eu sei e tu sabes. 

 

José Luís Peixoto, in A Casa, a Escuridão

 

 

Alice Alfazema

Crónica da minha escola

27
Jan14

Na minha escola os Dux(s) andam com ar de quem sabe tudo, não se deixam intimidar por miúdos de dez anos, sabem soletrar bem os palavrões e cuspir para o chão, no entanto ainda não atingiram as 24 matrículas. Carregam as mochilas vazias ao longo de todo o santo dia. Durante os intervalos dão chutos na bola, assim como quem não quer a coisa, para ver se atingem alguém. Há momentos de pura risota, por exemplo quanto vão mijar para o chão das casas de banho, e depois de feita a proeza vão-se queixar à funcionária que está tudo sujo. Esta espécie também sabe partir cacifos, persianas e gamar algumas coisitas. Alguns já têm bigode, outros andam a mostrar a cueca, nem sempre limpa. Há ainda outro ponto em comum, comem que se fartam, todo o santíssimo dia é vê-los para trás e para a frente com a magnifica sandocha na mão, por vezes até comem gomas, mas aquilo que gostam mais é de croissant. 

 

Alice Alfazema

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