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Alice Alfazema

Recortes do quotidiano: do meu, do teu, do seu, e dos outros.

Alice Alfazema

Recortes do quotidiano: do meu, do teu, do seu, e dos outros.

Boglosferissíma

29
Jun13

 

Ilustração Marlene Llanes

 

Sentei-me na mesa para jantar. Desta vez comi torradas com café, não gosto de café com leite. O meu irmão comeu sopas de pão com leite. A minha mãe também. Comemos, conversámos e rimos. O estômago ficou aconchegado. Este era um tempo que havia de passar. Muitas vezes a minha mãe ia para a fila do pão e do leite, esses bens escasseavam, as filas eram grandes. Nunca ouvi a minha mãe falar num futuro triste. Nunca a ouvi lamentar-se. É isso que quero passar aos meus filhos. Que vivam os sonhos deles, que não criem raízes desnecessárias. Que acreditem. Mandem às favas os cortadores de sonhos e ideias.

 

Talvez hajam mais histórias assim, mas as memórias são curtas, tão curtas que me fazem lembrar um vestido de marca que, apenas é vestido pelo prestigio que isso possa trazer. 

 

Se as virgulas pudessem mudar de lugar trariam outras vozes. Aquelas que têm vergonha. Que não pairam por aqui, com medo daquilo que sabem. Muitas coisas são deixadas ao acaso, ninguém as quer, no entanto carregam fardos mais pesados do que aquilo que se lhes pede. As teorias transformam-se a cada instante, alteram-se, modificando vidas e olhares. No fim se verá que vivemos vidas alheias, deixámos para trás momentos preciosos, mas só no fim, porque antes vamos viver a nossa vida em função dos outros.

 

Alice Alfazema

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